Garanhuns viveu entre os dias
31 de julho e 2 de agosto, um dos finais de semana mais dramáticos em relação a
mortes provocadas pela COVID-19. Na sexta, pai e filho morreram com um
intervalo de menos de meia hora entre os dois óbitos. No sábado, marido e
mulher, já idosos, não resistiram às complicações causadas pela doença e
faleceram. No meio dessas duas tragédias familiares, a cidade ainda seria
surpreendida por uma outra perda. Francisco Chaves dos Santos, o popular Júnior
Chaves, de 54 anos, que residia na Cohab 2, faleceu no domingo, dia 2, também
em decorrência de complicações causadas pelo Novo Coronavírus, deixando uma dor
descomunal e imensurável no coração daqueles que o amavam.
Quatro dias após aquele final de semana terrível, Luciana, a esposa de Júnior,
tenta se reerguer, mas não está sendo fácil. As lembranças dos mais de 30 anos
de uma união marcada por alegrias, amor e companheirismo, em contraponto à
forma repentina e dramática como o Marido perdeu a luta contra a COVID-19,
abriram uma ferida emocional nela e em sua família que ainda vai demorar muito
a cicatrizar.
Na última terça, dia 4, o
Portal V&C Garanhuns conversou com Luciana, que fez um relato emocionante
dos seus últimos momentos ao lado do esposo e de como ele sucumbiu à uma doença
que continua trazendo sofrimento a milhares de famílias em todo o Brasil. Confira
trechos da Entrevista:
MARIDO, PAI E AVÔ EXEMPLAR
Júnior Chaves é citado pela esposa como um marido, pai e avô exemplar, cheio de
vida e brincalhão, que deixou muitos sonhos pra trás. “Ele tinha muito a
realizar. Sonhava em viajar com minha mãe quando melhorasse. Era um homem
incrível, batalhador, chato nas horas de ser chato, amoroso nas horas que era
preciso ser. Alegre e comunicativo, era muito conhecido e adorava comemorar
momentos felizes com os amigos. E amigos ele tinha muitos. Fazia amizade até
com o vento, inclusive com as crianças”, frisou a Viúva.
Já a filha revelou que Júnior
só tinha um neto, mas vivia pedindo mais a ela e ao irmão. Conta emocionada que
Júnior tinha uma relação especial e um carinho grande pelas crianças, que o
chamavam de Tio do Pirulito. “Meu pai amava muito todos nós.
Simplesmente partiu e agora fica como legado os ensinamentos que ele deixou.
Está sendo horrível lidar com essa perda tão grande. Ele se foi, o covid-19 o
levou e levou um pedaço de nós junto”, constatou.
ELE NÃO ACREDITAVA NA GRAVIDADE DA PANDEMIA
Emocionada, Luciana, a esposa, disse que Júnior, inicialmente não acreditou
na gravidade da Pandemia. “Ele lutou até onde podia e não se entregou
em nenhum momento, mas o fato é que meu marido não respeitou a gravidade da
pandemia. Chamava a COVID-19 de Corolla e quando saía dizia que ia dar uma
volta de Corolla. De fato, acabou fazendo uma viagem de “Corolla”, só que,
desta vez, não voltará mais”, desabafou a viúva.
SINTOMAS COMEÇARAM FINAL DE JUNHO, E PRIMEIRO TESTE PARA COVID-19 DEU FALSO
NEGATIVO
Os sintomas que culminaram com a morte de Júnior começaram no final de junho,
inicialmente com uma falta de ar. “Brigamos pra levá-lo ao Médico,
mas ele se recusou. Inicialmente porque ele não gostava de ir ao Médico e
começou a tomar remédio por conta própria, acreditando que iria se recuperar
sozinho. Segundo, porque o primeiro teste da COVID dele, feito dia 17 de julho,
deu negativo. Entretanto, nós enquanto família tínhamos certeza que era um
falso negativo, pois os sintomas só aumentavam todos os dias com uma tosse
forte que não parava”, revelou Luciana.
LUCIANA DIZ QUE ESPOSO IGNOROU O ISOLAMENTO
Mesmo com os problemas de saúde se agravando, Luciana revelou que Júnior
continuou lutando contra o óbvio. Que algo estava errado com seu corpo e que
era preciso procurar ajuda médica. A viúva disse que, mesmo debilitado e com
sintomas de COVID-19, o esposo saia de casa, ignorando o isolamento, fato que
era desaprovado por todos da família.
A INTERNAÇÃO EM UM DIA E A MORTE NO OUTRO
“No dia 31 de julho meu esposo estava muito mal, muito mal mesmo, sem
conseguir dormir, sentindo falta de ar e tosse. Mesmo assim, teimoso como era,
só no dia seguinte, no sábado, 1º de agosto, ele resolveu procurar um Médico
aqui no Posto de Saúde. Como já estava muito debilitado, foi encaminhado direto
para a UPAE, onde foi diagnosticado com o vírus, já ficando internado”.
A ÚLTIMA CONVERSA COM O MARIDO FOI POR VÍDEO CHAMADA
Luciana conta que, no sábado, dia 1º de agosto, a equipe da UPAE fez um vídeo
chamada para a família e que na ligação viu um Júnior aparentemente bem. A
esposa revelou que, ao ver o marido sem estar intubado, e de bom humor, achou
que o pior já havia passado. O desfecho, infelizmente, não seria assim. Na
madrugada, por complicações ocasionadas pela covid-19, Júnior teve uma parada
cardíaca. Reanimado, foi transferido para o Hospital Dom Moura. Ele ainda
chegou a ser intubado, mas teve uma parada cardiorrespiratória por volta das
05h30min do domingo, 02 de agosto e faleceu. “Essa doença é assim.
Uma vez diagnosticada, ela vai comprometendo os órgãos vitais. No caso do meu
marido, ela comprometeu o coração levando-o à morte. Descobrimos após exames
que ele era diabético e, possivelmente, tinha pressão alta. Isso deve ter
contribuído para o desfecho que ninguém esperava”, disse Luciana.
A FALTA DE UMA DESPEDIDA DÓI
Uma das coisas que tem dificultado a superação para aqueles que perdem alguém
para a COVID-19 é a falta de uma despedida. O Paciente acometido com o
vírus é imediatamente isolado de seus parentes, privando-o do calor humano, do
abraço, do afago, de um aperto na mão dos que o amam. Na morte ocorre o mesmo.
Não há velório e o enterro é realizado às pressas, logo após o
óbito. “Não tive oportunidade de me despedir dele. A última vez que
falei com meu marido foi através de vídeo chamada e, no outro dia, ele morreu.
O que me dói mais é não termos podido dar a ele um velório e um enterro digno,
como ele merecia. Perdi meu marido muito rápido e dói muito não poder ter
dado adeus”, desabafou Luciana.
A Viúva encerrou a conversa com o portal pedindo às pessoas para não ignorarem
a COVID-19. “A doença é gravíssima e perigosa. Ela nos tira, de
maneira repentina, as pessoas que mais amamos e isso é terrível”,
encerrou, Luciana. Até o fechamento desta publicação, Garanhuns já havia
registrado 51 vítimas da COVID-19. Francisco Chaves dos Santos foi a 49ª.
Triste estatística.