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BLOG DO CARLOS EUGÊNIO | domingo, 15 de janeiro de 2017

 
Um episódio que
por muitos anos permaneceu velado na cidade de Garanhuns completa 100 anos hoje,
dia 15, e vem sendo marcada por uma programação especial coordenada pelo Instituto
Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns, e que contou com a presença do
Prefeito em Exercício, Haroldo Vicente (PSC).


Originada a
partir de uma briga entre duas correntes políticas, a Hecatombe de Garanhuns
deixou cicatrizes profundas. Até hoje, há quem se emocione ou evite falar sobre
o fato que espalhou sangue e dor pelo Município. No dia 15 de janeiro de 1917,
num massacre impiedoso, 18 pessoas foram mortas no prédio onde funcionava a
cadeia pública da Cidade (atual prédio da Compesa, no centro da Cidade). Entre
as Vítimas, estavam sete membros da sociedade, cinco soldados da Polícia
Militar, cinco jagunços e um morador que passava pela rua no momento do
tiroteio.






O estopim para a matança dos chefes de tradicionais famílias garanhuenses, como
Jardins, Miranda e Ivo foi o assassinato do deputado estadual Júlio Brasileiro,
morto pelo capitão Francisco Sales Vila Nova, no Café Chile, na Praça
Independência, no Recife, em 12 de janeiro daquele ano. Um crime cometido por
apenas um homem, mas que foi vingado em pessoas sem nenhuma ligação com a morte
do deputado.






“O assassinato de Júlio Brasileiro foi o que gerou a Hecatombe de Garanhus.
Após saber da morte do marido, a viúva Ana Duperron pensou se tratar de um
complô armado pelos adversários políticos dele e decidiu mandar matar todos
eles. Foi um dia de massacre em Garanhuns. Pessoas inocentes foram assassinadas
dentro da cadeia pública, onde achavam que estariam protegidas. Policiais que
faziam a guarda também foram mortos”, conta o professor e escritor José Cláudio
Gonçalves de Lima, autor do livro “Os sitiados: a Hecatombe de Garanhuns”.



O DIA EM QUE
GARANHUNS VIROU CENÁRIO DE FAROESTE

– A notícia do assassinato de Júlio Brasileiro, que ascendia como liderança
política na região, rapidamente espalhou-se por Garanhuns. Após receber o
telegrama enviado pelo deputado Eutrópio Silva, no qual foi informada da morte
do marido, Ana Duperron e os parentes de Júlio escreveram para Alfredo
Brasileiro Viana, sobrinho de Júlio que morava em Brejão, pedindo que ele
viesse a Garanhuns e trouxesse vários jagunços. A presença dos mais de 100
homens armados pelas ruas da cidade assustou a população e os adversários
políticos de Brasileiro. A princípio, a viúva e os familiares de Júlio disseram
que os jagunços seriam para protegê-los, no entanto, em pouco tempo, iniciaram
a vingança do crime ocorrido no Recife. Casas e estabelecimentos comerciais dos
políticos que faziam oposição a Brasileiro começaram a ser atacados.






“Ao saber da morte do marido, Ana Duperron disse que não receberia pêsames.
Falou também que só vestiria luto quando as outras vestissem e que só choraria
quando as outras chorassem. Referindo-se às mulheres dos líderes políticos
adversários de Júlio Brasileiro. Ela acreditava que a morte do marido havia
sido tramada por eles”, ressalta o professor e escritor José Cláudio Gonçalves
de Lima. Cláudio é o coordenador da Comissão do Memorial do Centenário da
Hecatombe de Garanhuns, criada pelo Instituto Histórico e Geográfico de
Garanhuns para registrar a passagem dos 100 anos da hecatombe.





Com medo, muitas famílias deixaram a Cidade. Quem ficou, preferiu o silêncio.
Nem mesmo os descentes dos envolvidos ou vitimados na hecatombe costumavam
tocar no assunto. E assim foi por muitos anos. Hoje, pouca gente conhece a
história. Natural de Garanhuns, o escritor Mário Márcio de Almeida Santos também
escreveu sobre o tema. Ganhou o prêmio Othon Bezerra de Melo, da Academia
Pernambucana de Letras (APL), em 1992, com o livro Anatomia de uma tragédia – a
Hecatombe de Garanhuns. Mário Márcio, que ocupou a cadeira de número 4 na APL,
morreu em setembro de 2015, aos 88 anos.


Com ameaças a todo momento, o pânico tomou conta da cidade naquele 15 de
janeiro. “Os jagunços e parentes de Brasileiro foram até a casa de Manoel
Jardim, onde agrediram as filhas e a esposa dele. Em seguida, foram ao armazém
dos irmãos Miranda e atiraram várias vezes, mas Argemiro e Júlio Miranda
estavam escondidos. Depois seguiram para o armazém de Sátiro Ivo e ameaçaram
invadi-lo, mas depois foram embora”, relata José Cláudio Gonçalves. Ainda
segundo o professor, os agressores seguiram para a casa de Antônio Borba
Júnior, aliado dos Jardins, mas também não o encontraram. 

Temendo pela sua vida, Borba Júnior pediu ajuda ao delegado e tenente Antônio
de Pádua Pimentel Meira Lima, que o aconselhou a se esconder na delegacia, onde
também funcionava a cadeia pública da Cidade. “Logo em seguida, o tenente Meira
Lima foi até a casa da viúva Ana Duperron, onde já estava o juiz José Pedro de
Abreu e Lima e os parentes de Brasileiro. Foi quando nasceu o plano de mandar
todas as outras lideranças políticas para a delegacia dizendo que lá estariam
protegidos. Além disso, o delegado havia retirado grande parte da munição que
estava na delegacia. Horas mais tarde, perto das 15h, todos os líderes
políticos foram supliciados. Foi um tiroteio que durou quase meia hora. Foi
muita violência. O reforço policial que estava vindo do Recife só chegou por
volta das 16h”, destaca o Professor.

“Houve uma grande conspiração para que esse fato (hecatombe) acontecesse. Todos
que morreram eram pessoas idôneas, fundadores de Garanhuns. Manoel Jardim foi
quem trouxe iluminação para essa cidade, inaugurou a primeira escola e calçou
várias ruas. Além da elite política que foi assassinada, cinco soldados
morreram e hoje pouca gente sabe quem foram essas pessoas que morreram tentando
defender os outros, o que é uma grande injustiça”, aponta o advogado Luís
Afonso de Oliveira Jardim, 57 anos, descendente de Manoel Jardim e membro da
Comissão do Memorial do Centenário da Hecatombe de Garanhuns. Luís Afonso conta
que só houve reação por parte das pessoas que estavam dentro da delegacia porque
suas tias conseguiram mandar duas armas e munições escondidas em bandejas de
comida. “Somente por isso eles reagiram. Mas não conseguiram sobreviver. Manoel
Jardim estava tão doente que foi levado para a cadeia pública em uma cadeira”,
completa Luís Afonso.

Aos 74 anos e neta de Argemiro Tavares de Miranda, dona Norma Carneiro Leão de
Miranda Losada conta o que sabe sobre a hecatombe. “Esse assunto sempre foi
muito velado na família. Meu pai tinha 8 anos quando meu avô foi assassinado e
minha avó, Mirandolina Souto de Miranda, deixou Garanhuns com os quatro filhos
pequenos. Meu tio Teotônio por pouco não morreu também. Ele estava na cadeia
pública, mas os jagunços disseram que não matariam criança. Neste domingo, vou
mandar celebrar uma missa em memória de todos os que morreram na hecatombe”,
destaca Norma Miranda. Até hoje, dona Norma guarda o relatório do inquérito
policial feito pelo então juiz de Gravatá, José Francisco Ribeiro Pessoa, que
investigou as mortes. As cópias foram custeadas pelas viúvas das personalidades
assassinadas, entre elas a avó de dona Norma.

A programação
oficial do Centenário da Hecatombe reuniu exposição, palestras, culto de ação de
graça, missa, sessão solene na Câmara de Vereadores, caminhada e fixação de uma
placa alusiva à data no prédio da Compesa, na Praça Irmãos Miranda, local onde
ocorreu o fato histórico. Toda a articulação para que a data se mantenha viva
na memória local está sendo realizada pelo Instituto Histórico e Geográfico e
Cultural de Garanhuns (IHGCG). 
(Por Wagner
Oliveira
/Diário de Pernambuco. CONFIRA)