BLOG DO CARLOS EUGÊNIO | sábado, 23 de julho de 2016
A programação do Festival de
Inverno de Garanhuns não é feita só de música. Está voltada também para uma das
maiores vocações culturais da cidade: a literatura. Um dos principais destaques
deste ano é a conversa travada entre o escritor consagrado Raimundo Carrero e o
professor de português e escritor garanhuense Mário Rodrigues, vencedor do
Prêmio Sesc de Literatura 2016, na categoria conto.
O Encontro acontece hoje, às
19h, na Praça da Palavra. Receita para se Fazer um Monstro é o título da obra
vencedora, que transporta o leitor para a década de 1980 e, sem dó, apresenta
uma reflexão e investigação sobre a maldade que muitas vezes está próxima da
gente, no âmbito individual e coletivo. “Uma infância cruel gera um adulto
cruel. Um dos contos fala sobre uma determinada criança que mata um papagaio de
outra por vingança, pois, anteriormente, o dono do papagaio cortou uma pipa
sua. É como se a infância fosse o aprendizado de tudo”, explica Mário.
Na trama, o conjunto de
brincadeiras e descobertas compõe um quadro trabalhado entre a dureza e a
ironia, o que nos remete à própria origem da brutalidade que reside na alma dos
personagens. “Esse retrato cruel dialoga com os nossos dias, evidenciando
as pequenas violências que existem em cada um de nós”, conta o autor.
Trata-se de uma compilação de pequenas histórias – muitas ocupando entre uma
página ou uma página e meia -, escritas em sua totalidade dentro de um período
de cinco meses, com a consciência e intenção de transforma-las num conjunto de
textos que dialogam entre si, mesmo que separados por narrativas distintas.
“Eu gosto de coletânea de
contos quando há um mote entre eles, uma obra com o caráter maior pelo conjunto
de familiaridade do que está sendo narrado, e foi justamente isso o que eu
fiz,” revela Mário. O livro foi produzido em um período delicado da vida
do escritor, influenciando diretamente no resultado final. “Ele nasceu um
ano antes do meu filho e um ano depois que eu perdi o meu pai, talvez a
necessidade de revisitar a infância tenha partido daí”, pontua o Escritor.
O prêmio foi algo novo na
carreira de Mário Rodrigues e de todos da Cidade, e está servindo como fomento
à produção literária, não apenas pessoal, mas para todo o interior do Estado.
“Já fui finalista, já recebi menção honrosa, mas isso está sendo algo novo
e empolgante, pois conheço muitos escritores do interior que produzem bons
livros, mas que ficam se perguntando se o trabalho vai conseguir alcançar
visibilidade fora de sua própria Cidade. O prêmio veio para mostrar que se você
produz com perseverança, mais cedo ou mais tarde o resultado vem a
surgir”, diz.
Mário Rodrigues ainda
ressaltou o espaço positivo que o conto tem conseguido alcançar nos últimos
anos: “O romance sempre foi o ponto primordial comercialmente, mas é bom
lembrar que temos Ronaldo Correia de Brito, Marcelino Freire, entre tantos outros
contistas levando as escritas mais curtas para públicos mais longos”. O
escritor voltará à Praça da Palavra, no dia 30, às 16h, falando desse seu novo
e premiado trabalho com mediação do escritor, também garanhuense e seu
companheiro de geração, Nivaldo Tenório. (Com Informações do Jornal do Commercio – Edição de 23/07/2016)